Uma comparação entre Ensino Tradicional e o Método Suzuki
Autora: Barbara Barber (www.barbarabarber.com)
Tradução: Heloísa Padilha. Revisão: Fabio dos Santos.
Publicado com a permissão da autora. Título original em inglês: “A Comparison of Tradicional and Suzuki Teaching”, Barbara Barber. 1991. Translated and Reprinted with permission of author, Suzuki Association of Americas and American Strings Teachers Association.
Recentemente eu tive uma conversa com um amigo, um violinista de uma orquestra sinfônica importante, que também dá aulas particulares.
Amigo: – “Você é uma professora Suzuki, certo?”
Eu: – “Não, eu sou professora de violino.”
Amigo: – “Mas você não usa o método Suzuki?”
Eu: – ”Sim, mas eu também uso outros materiais. O que você usa?”
Amigo: – “Bem eu uso Tune a Day, Loaureux, Wohlfahrt, Doflein e outros.”
Eu: – “Eu uso todos esses também.”
Ao longo da nossa conversa, chegamos à conclusão que realmente nós estávamos fazendo a mesma coisa: ensinando alunos a tocar violino. Comecei a pensar sobre o significado do que é ser um professor Suzuki e como isto se compara ao que se conhece como professor tradicional. Quais as diferenças? Quais as semelhanças? Porque percebe-se uma diferença entre os dois? Como eles se completam? Existe uma transição entre um e outro? Em que ponto eles pregam a mesma coisa? Estas são perguntas frequentes de professores e pais que eu gostaria de tentar responder, através de uma perspectiva norte americana.
A Escola Tradicional
Somente devido ao tremendo impacto que o ensino Suzuki tem promovido na educação de instrumentistas de cordas é que agregamos o termo “educação tradicional” ao nosso vocabulário de cordas. Antes que as idéias de Shinichi Suzuki fossem introduzidas no Japão, há quase 30 anos atrás, o que agora chamamos de estilo tradicional era o modo normal de ensinar instrumentos de cordas. É um verdadeiro desafio definir o que hoje conhecemos como estilo tradicional de ensino, uma vez que ele está baseado centenas de anos de desenvolvimento das escolas européias de pedagogia e repertório passados de geração para geração. Nós podemos traçar a nossa própria linhagem musical através dos professores com quem estudamos – a minha própria volta a Ysaye, Auer e Persinger. Todos os violinistas podem se considerar descendentes de Corelli, “o antecessor de todos os grandes violinistas”.[1] Muitos violinistas e violistas formaram-se baseados estritamente em Sitt, Sevcik, Kreutzer, Galamian e Flesch; violoncelistas em Dotzauer, Dupont, Feulliard e Popper; contra-baixistas em, Billé e Simandl; violonistas em Sor, Aguado, Giuliani, Carulli e Carcassi; e harpistas em Boscha, Renié, Salzedo e Grandjany. Estes são apenas alguns dos precursores da escola tradicional. Cada um desses compositores/pedagogos contribuiu significativamente `a arte do ensino de cordas; porém, muitos outros geraram um impacto na técnica de cordas apenas pelo seu próprio modo de ensinar (Vários dos grandes pedagogos nunca na realidade foram solistas, como exemplo temos Dorothy DeLay e o próprio Suzuki) .
Considerando-se as muitas personalidades e estilos individuais de execução, é obvio que a escola tradicional de ensino de cordas foi influenciada por mudanças na cultura, sociedade, moda e gosto de público, assim como pela evolução das modernas salas de concertos e dos próprios instrumentos.
[1] Boris Schawarz, Great Masters of the violin (New York,NY: Simon and Schster 1983). 49
Shinichi Suzuki
Shinichi Suzuki nasceu em 1898 no Japão, filho de um fabricante de violinos. Quando jovem, estudou com Karl Klinger em Berlim, nos anos 20. Klinger foi aluno de Joachim: portanto, o próprio Suzuki pode ser considerado tradicional. Ele deu início ao seu movimento de Educação de Talento em 1945 em Matsumoto, depois de testemunhar a devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial e dar-se conta do imenso sofrimento das inocentes crianças japonesas.
Ele passou muitos anos desenvolvendo sua ideologia, bem como sua aplicação ao ensino de violino. Hoje em dia, do alto de seus mais de 90 anos, ele se levanta cedo diariamente para meditar, ler e ensinar e ainda viaja aos Estados Unidos ocasionalmente. Apesar de seu sistema ser publicado e constantemente referido como “método”, ele é na realidade uma filosofia educacional que pode ser aplicada ao ensino de qualquer conteúdo ou técnica para aluno de qualquer idade. A base do material do Método Suzuki para violino, viola, cello, contra-baixo, violão, harpa, piano e flauta é agora publicada pela Sammy Birchard, Inc. Uma vez que o próprio Suzuki é violinista, o repertório original foi concebido para violino. Por esta razão e porque o violino é talvez o instrumento com mais facilidade de adaptação para crianças pequenas por ser portátil e não tão caro, o método é mais popular para violino. Seus 10 volumes para violino tem sido chamados “uma série de bem graduada de composições para o desenvolvimento técnico e musical da criança”. [2] Os volumes 1 a 3 consistem em várias de suas composições e transcrições da literatura clássica, incluindo obras de Bach, Brahms, Schumann, Dvorak e Boccherini (muitas dessas mesmas peças são encontradas em outras coleções de solos para alunos principiantes e intermediários). Os volumes 4 a 10 consistem do repertório padrão de violino usado por professores tradicionais por muitos anos – os concertos de Seitz, Vivaldi, Bach e Mozart; as sonatas de Handel, Corelli, Eccles e Veraccini e um número de peças curtas transcritas. O que poderia ser mais tradicional do que este repertório?
O repertório publicado para os outros instrumentos mencionados seguem a mesma ordem cuidadosamente planejada, a cada peça acrescentando apenas um novo elemento técnico ou musical. Algumas peças são inseridas periodicamente como peças “plateau”, dando ao aluno a oportunidade de polir algumas técnicas previamente aprendidas e desenvolver-se musicalmente. Muitas das primeiras peças são comuns a todos os instrumentos – em particular as “Variações das Estrelinhas” – embora elas sejam transpostas para tonalidades apropriadas a cada instrumento. Todo volume é acompanhado de gravação que permitem aos alunos ouvir as peças que estão aprendendo com o acompanhamento de piano. Aí está uma das maiores contribuições dos materiais publicados do Suzuki: gravações amplamente acessíveis de músicas para alunos principiantes e intermediários.
[2] William Starr. Suzuki Violinits (Knoxville,TN: Kingston Ellis Press 1976), 17
Fundamentos Básicos da Filosofia Suzuki
Não é raro o uso indevido do nome Suzuki. Pais e alunos acham que eles estão “fazendo Suzuki” quando na verdade eles estão estudando violino (ou cello, viola, contrabaixo, violão, harpa, flauta, piano). Crianças pequenas tem sido chamadas de “aqueles Suzukinhos bonitinhos” quando na realidade eles estão utilizando idéias “tradicionais” e literatura tradicional de vários pedagogos e compositores. O Dr Suzuki é o primeiro a admitir o ecletismo da sua filosofia e sugere ao professor “Suzuki” que, ao invés de nomear-se assim, se apresente como “Suzuki da Silva” ou “Suzuki de Oliveira”. [3] Nota-se então que não há um “professor puramente Suzuki “, uma vez que cada um de nós adapta várias técnicas e idéias no desenvolver da nossa própria maneira de ensinar. A maneira Suzuki de ensinar, baseada na sua filosofia educacional, não é uma metodologia técnica, mas possui características que a distingue da maneira de ensino tradicional. Vejamos como algumas dessas idéias são compartilhadas até certo ponto por professores tradicionais. Meus comentários (em itálico) contrastam esses conceitos com os do ensino tradicional.
[3] Ray Landers. Is Suzuki Education Working in America? (Chicago, IL: Daniel Press. 1987), 12
1 A filosofia Suzuki é baseada no preceito de que as crianças podem ser educadas através do seu ambiente.
O Dr. Suzuki acredita que toda criança nasce com um potencial extraordinário e, exposta a um ambiente musical e recebendo excelente treinamento, ela pode aprender a tocar um instrumento. Daí o nome “Educação do Talento”. Suzuki mudou o conceito tradicional de que sucesso ou fracasso da habilidade musical de uma criança é resultado de um talento inato. Enquanto algumas crianças podem adaptar-se mais rapidamente e de forma mais sensível que outras, haja vista cada uma tem seu próprio ritmo de aprendizado, todas podem aprender a tocar bem, seja qual for o nível alcançado. Talento não é inato ou herdado, mas sim treinado e educado. Gênio é o respeitoso nome dado aqueles que são expostos e treinados a ter uma alta habilidade. [4]
Suzuki aconselha professores e pais a nutrirem suas crianças e alunos em uma atmosfera de amor, construindo a auto-estima com constante paciência, tolerância, oferecendo elogios e reforçando positivamente estas idéias. Sua proposta não é transformar alunos em profissionais de carreira, mas enriquecer suas vidas através da apreciação de boa música e torná-los seres humanos sensatos , sensíveis e pacíficos.
Enquanto todo professor abraçaria os conceitos de criar um ambiente favorável ao aprendizado, mostrando a todas as crianças a experiência da música clássica e seus benefícios, alguns professores de outros métodos de ensino estão mais inclinados a encorajar os alunos mais talentosos que desde cedo demonstram considerável potencial.
[4] Shinichi Suzuki. Nurtured by Love (New York,NY: Exposition Press 1976), 31
2 Alunos treinados pelo Método Suzuki começaram bem jovens.
Professores que usam esta filosofia têm uma afinidade particular para ensinar crianças pequenas. Eles podem começar alunos de qualquer idade a partir de três anos até nove ou dez. O ideal é permitir um início vagaroso e cuidadoso, permitindo que a criança domine completamente cada nível antes de seguir para o próximo. A instrução inicial para a criança consiste em observar as aulas de outros alunos, ouvir as gravações e frequentemente aprender a posição do instrumento e do arco com uma espécie de pré-violino/violoncelo.
Professores tradicionais normalmente iniciam alunos quando eles são mais velhos. No entanto, a base construída em qualquer idade é crucial, pois o futuro dos alunos será um reflexo desta. Professores descuidados na escolha do método de iniciação podem provocar danos irreparáveis ao mover demasiadamente rápido seus alunos, independente de sua idade.
3 O professor Suzuki estabelece uma sociedade com os pais.
Um dos pais atende a todas as aulas com a criança, tomando notas cuidadosamente e fazendo perguntas para então ela/ele se tornar o professor em casa durante o resto da semana. Os pais normalmente atendem a sessões de orientação, algumas vezes mesmos aprendem a tocar as primeiras peças no instrumento. Isto requer organização e um compromisso substancial em termos de tempo e energia dos pais.
Qualquer professor aprecia o auxílio e encorajamento dos pais. No entanto, eles geralmente não exigem que os pais tenham um papel ativo no processo de aprendizado.
4 O ensino pelo Suzuki ensina as crianças a tocar um instrumento antes de introduzir a leitura de partitura musical.
Suzuki chama o seu plano de “filosofia da língua materna,” uma vez que ele segue o mesmo procedimento usado pelas crianças quando estas aprendem a falar a sua língua nativa: exposição, imitação, encorajamento, repetição, adição e refinamento. Os alunos aprendem a tocar imitando as peças gravadas as quais eles escutam várias vezes por dias. Eles primeiramente interiorizam cada peça e posteriormente são mostrados como recriá-la no instrumento. Eles vencem muitas das dificuldades técnicas do instrumento e aprendem a comunicar-se através do instrumento antes de aprender a ler partituras, exatamente como eles aprendem a falar antes de ler.
Quando as idéias educacionais de Suzuki foram introduzidos nos Estados Unidos, muitos professores norteamericanos ficaram tão entusiasmados com esta nova maneira de ensinar crianças a tocar sem a responsabilidade de usar a música impressa que, verdade seja dita, a leitura musical foi frequentemente negligenciada. Aprendendo através de erros passados e adaptando o método à nossa cultura, muitos professores perceptivos agora ensinam o instrumento e a leitura geralmente do começo, mas como duas tarefas separadas. Muitos principiantes atendem às aulas de leitura ou teoria, onde são expostos ao básico da notação musical, bem como ao prazer de cantar e de participar de jogos musicais. Mas quando é que o aluno Suzuki começa a ler música com o instrumento? Na hora apropriada, determinada pela própria criança em seu comando técnico do instrumento e a habilidade de concentrar-se na música escrita ao mesmo tempo.
O professor julga cada aluno separadamente. A maioria dos professores incorpora a leitura à aula no Volume 2 ou em idade escolar. Novos materiais foram desenvolvidos para este propósito, e professores estão ensinando leitura mais cedo e com maior sucesso do que anteriormente.
Alunos Suzuki são frequentemente criticados por não ler música tão bem quanto tocam. Infelizmente, eles são alvos tão somente porque tocam bem, e porque normalmente são mais jovens do que seus tradicionais contemporâneos; suas habilidades de leitura simplesmente ainda não alcançaram o seu nível técnico e musical de execução do instrumento. Geralmente, eles estão lendo em um nível apropriado à sua idade. Nós não culpamos nossas crianças de cinco anos e seis anos quando eles podem já falar inglês fluentemente mas não podem ainda ler!
Muitos alunos de outros métodos também não leem bem, mas, como eles normalmente também não tocam bem, eles não são culpados por sua fracas habilidades de leitura. Muitos músicos talentosos não leem música no mesmo nível nível que eles realmente tocam. Alguns dos maiores músicos de jazz, música popular e gospel aprendem a tocar exclusivamente de ouvido. Simplificando, o ensino tradicional coloca a escrita antes o som e o ensino Suzuki coloca o som antes da escrita, o que é de fato o mais “tradicional” meio de educação no mundo.
5 Suzuki eliminou o uso de estudos no seu curso e usa escalas e arpejos apenas moderadamente.
Novas técnicas são introduzidas nas próprias peças ou com curtos exercícios introduzidos antes delas nos livros. Professores também criam dezenas de pequenos exercícios quando necessário nos primeiros volumes, adicionando em volumes adiantados as escalas padronizadas e estudos técnicos. As primeiras peças de Suzuki foram escritas e adaptadas para crianças pequenas; elas são curtas, cheias de movimento, divertidas de tocar, e funcionam bem em grupos. Elas são escritas na tonalidade de Lá, Ré e Sol, viabilizando o uso dos sons das cordas soltas. Seus registros geralmente favorecem as cordas superiores, já que estas cordas soam melhor em instrumentos pequenos. A genialidade do primeiro ritmo das Estrelinhas (sendo este empréstimo da abertura do Concerto Duplo de Bach) baseia-se na introdução às arcadas em detaché e staccato. Toda criança se deleita ao ver que já pode tocar o seu primeiro “Chocolate Quen-te” ( apenas um dos muitos nomes pelo qual é conhecido). Eles estão prontos para tocar um solo! O ritmo é tocado no meio do arco, usando primeiro os grandes músculos do braço; as arcadas são prolongadas gradualmente até tornarem-se arcos inteiros no final do volume 1.
Muitos sistemas tradicionais consistem em páginas após páginas de duros exercícios técnicos usando semibreve, mínima, semínima, exigindo do aluno o controle do arco inteiro desde o começo, ao mesmo tempo que ele também está aprendendo a controlar e a ler música. Estes exercícios tem pouco ou nenhum interesse musical, além do fato que métodos musicais não contém grande variedade de peças. Passam-se muitos meses antes do aluno estar preparado o suficiente para tocar para os outros.
6 Os professores do Método Suzuki ensinam um repertório padronizado.
A maioria dos professores ensinam os primeiros quatro volumes em sequencia, mas nos volumes seguintes, a ordem das varia frequentemente, e materiais de várias diferentes fontes são misturados à literatura Suzuki. A maioria dos professores que usa o repertório Suzuki é bem flexível, usando o material para servir às diferentes necessidades de cada aluno. No entanto, não é todo aluno que quer as mesmas peças que os outros estão tocando.
Professores tradicionais tem bastante flexibilidade em criar um cronograma individual para cada aluno. Muitos professores tradicionais usam os materiais Suzuki com seus alunos simplesmente porque são ótimas coletâneas de peças.
7 Alunos Suzuki revisam continuamente o repertório previamente aprendido.
Novas peças são acrescentados ao repertório assim como crianças acrescentam palavras ao seu vocabulário. Elas estão prontas para apresentar a qualquer momento. Peças revisadas são usadas para introduzir novas técnicas (mudança de posição, spiccato e assim por diante) e proporcionar a viabilidade para que alunos desenvolvam um alto nível de musicalidade. Alguns professores abstém-se de exigir a revisão contínua do repertório aos seu alunos mais adiantados.
O aluno tradicional geralmente abandona uma peça do repertório quando começa uma nova. Quando solicitado a tocar, o aluno normalmente “ não tem nada pronto.”
8 Alunos Suzuki tocam frequentemente e memorizam com facilidade.
Eles desde o começo aparecem no palco tanto como solistas ou membros de grupos. O repertório em comum serve como um mecanismo de motivação embutido: eles estão ansiosos para aprender as peças que os alunos mais avançados estão tocando. Aulas de grupo, concertos na comunidade, recitais e cursos de verão dão a eles razão suficiente para estudar e compartilhar com os outros suas realizações. Quando eles entram nas orquestras das escolas, o que eles quase sempre fazem, eles já têm vasta experiência em grupo.
Alunos tradicionais tendem a se direcionar mais para uma vida de “confinamento solitário”. Eles normalmente não tem tantas oportunidades de apresentar-se em público, e as experiência em grupo são somente adquiridas nas orquestras de escola e em grupos camerísticos. A independência da estante de música, que permite o seu florescimento como artista, algumas vezes não acontece até um nível mais avançado.
Programa de Desenvolvimento do Professor
Professores interessado na Educação de Talento podem receber treinamento intensivo especializado com pedagogos americanos aprovados e altamente recomendados pela Associação Suzuki das Américas (SAA). O estudo é dividido em unidades correspondentes à unidade do livro de repertório. Um professor pode escolher uma unidade em específico para estudar com um pedagogo em particular no local de sua preferência.
O estudo dos volumes é ensinado em cursos curtos, como programas de aprendizado individualizado com professores em estúdios, ou como programa compreensivos de longo prazo em faculdades e universidades que oferecem diplomas em Pedagogia Suzuki. Professores podem registrar seu estudo pela SAA, seguindo as diretrizes do Programa de Desenvolvimento do Professor, e são aconselhados a fazer as unidades em sequência. Os cursos são designados para aqueles que tem bastante domínio de seus instrumentos. Pré requisitos para as aulas incluem proficiência na execução do volume estudado, leitura e familiaridade com a filosofia Suzuki.
Os professores acham esse treinamento estimulante e extremamente valioso; ele é aplicável a qualquer cenário no ensino de cordas – em estúdio privados, seja em preparação para a faculdade e no nível universitário, bem como as aulas em escolas públicas. O enfoque não está no credenciamento, mas desenvolvimento e crescimento contínuo do professor.
É necessário que professores que se proclamem adeptos ao Método Suzuki sejam filiados à SAA. Nenhuma outra organização oferece este tipo sistemático e compreensivo de educação contínua a professores de cordas, nem devem os professores serem afiliados à nenhuma outra associação.
Concepções Errôneas mais Frequentes
Os seguintes pontos de vista foram expostos pelo ceticismo e má interpretação de indivíduos que são simplesmente desinformados sobre este sistema educacional. Uma tentativa é feita aqui para dispersar tais mal-entendidos:
1 O ensino Suzuki é um método de grupo. Alunos Suzuki ganham atenção da mídia por causa dos concertos em grandes grupos frequentemente apresentados, dando a falsa impressão de que este é modo em que eles são treinados. Ao contrário do que alguns acreditam, a base do programa é na realidade a chamada aula individual. Este pode ser o modo mais apropriado de aula particular, uma vez que outros alunos, pais e professores são também estimulados a comparecer.
2 Os alunos Suzuki não leem música. Como nós já vimos, não ensinar alunos a ler música não é um dos princípios da Educação do Talento. Se alunos usando este sistema não leem bem, os responsáveis por isto são os professores e os pais.
3 Os alunos Suzuki tocam como robôs. Em grupo, a unidade musical é enfatizada, como no naipe de cordas de qualquer orquestra sinfônica profissional. Porém, qualquer professor que não estimule sua alunos a desenvolver sua individualidade quando está tocando solo, não devesse talvez nem sequer estar dando aulas, independente do método que esteja utilizando. Tanto professores Suzuki como professores tradicionais fornecem exemplos de beleza musical tocando para inspirar seus alunos. É para isso que servem os professores. Enquanto um aluno pequeno é moldado como se imitasse seu professor, alunos mais avançados são guiados pelo que seu professor julgar ser a mais aceitável direção.
4 Alunos mais avançados devem fazer a transição do “Suzuki” para o “Tradicional”. Alunos tocando os últimos volumes estudam repertório suplementar e supostamente demonstram desenvoltura na leitura de partitura. Gradualmente, eles tornam-se independentes do envolvimento dos pais na aula e no estudo em casa. Em nenhum ponto eles param de ser alunos Suzuki e passam a ser alunos tradicionais; não há uma transição de um para outro já que ambos são a mesma coisa.
5 Professores Suzuki ensinam com jogos e truques. Quando professores usam imagens criativas e jogos engenhosos tanto nas aulas individuais quanto nas aulas de grupo, especialmente com alunos pequenos, isto quase sempre é feito, com finalidades técnicas ou musicais. Professores tradicionais também usam muitas das mesmas táticas de ensino. Isso realmente depende muito da personalidade individual o professor e sua filosofia de ensino. Qualquer fórmula de aprendizado pode ser divertida.
6 Alguns procedimentos e técnicas “Suzuki” devem ser seguidos:
- Muitos professores Suzuki adotam o costume japonês de pedir ao aluno que se curve (em reverência) no começo e no final da aula como sinal de respeito, instigando-lhe a concentração durante a aula e ensinando-lhe a portar-se propriamente no palco.
- Alguns professores ensinam seus alunos principiantes a segurar o arco com o polegar voltado para fora do talão.
- Fitas são normalmente colocados no espelho do instrumento dos principiantes, para assegurar a precisão na afinação e no arco para indicar a distribuição do mesmo.
Nenhuma instrução em específico é dada aos professores sobre nenhuma dessas práticas comuns. Elas são meramente de aspecto periféricos e não são essenciais à filosofia Suzuki. Professores devem procurar usá-las por curto período de tempo, até um certo estágio, ou não usá-las. - Alguns seguidores da metodologia Suzuki pregam o posicionamento demasiadamente baixo do braço direito do violinista.
Esta pode ser o resultado da velha prática do “livro embaixo do braço”, tão propaganda na Alemanha no fim do século dezenove. Apesar de nenhum guia específico ter sido estabelecido, este tem sido tópico importante, enfaticamente considerado por Dr Suzuki nos últimos anos. Ele defende o cotovelo baixo por acreditar que isto auxilia o desenvolvimento de uma sonoridade mais densa causada pelo peso do braço ao invés da pressão no arco.
7 Professores Suzuki devem ser licenciados. Como dito anteriormente, não existe uma licença do professor, apenas o registro na SAA das unidades de treinamento que o professor completou. Muitos professores intitulam-se professores Suzuki sem se importar com a quantidade de treinamento ou diplomas em música que eles tem.
Sem o completo entendimento ou dedicação a filosofia, alguns professores usam o nome “Suzuki” ou “Educação do Talento” por causa da atenção que atrai pais e crianças a este conhecido sistema educacional. Muitos professores trabalham muito bem sob a estrutura de um círculo organizado. Outros podem desencorajar esta identificação ou evitá-la inteiramente para que não se restrinjam; eles não querem ficar conhecidos como instrutores apenas de crianças pequenas, como muitas vezes são associados pelos mais desinformados. Existe também aqueles que usam o que pode ser chamado de uma metodologia Suzuki modificada, empregando somente parte dos princípios envolvidos. A maioria das idéias de Suzuki não são novas, mas tem sido codificadas como uma metodologia sistematizada. Ele tem oferecido a professores exemplos maravilhosos de como ensinar crianças pequenas. Muitos professores tradicionais usam alguns dos mesmos princípios em aulas individuais e em conservatórios.
Riscos e Problemas
Espero deixar aqui claro que minha intenção ao escrever este artigo não é a de somente expor as virtudes da metodologia Suzuki. A Educação do Talento certamente não é imune a alguns riscos do ensino de cordas em geral. Como qualquer processo educacional, seu sucesso depende do professor que o ensina. Durante meus 15 anos de experiência ensinando Suzuki, pude constatar as seguintes situações:
1 Por causa do envolvimento dos pais, do uso de gravação e do adiamento da leitura de partitura, algumas crianças pequenas avançam rapidamente entre um livro de repertório e outro, defrontando-se então com alguma grande peça de repertório – um concerto de Mozart, por exemplo – antes que estejam maduras técnica e emocionalmente. A obsessão de alguns pais e professores em relação ao número de peças e volumes completos acaba por vezes comprometendo a qualidade do trabalho.
2 O repertório Suzuki é composto predominantemente de obras barrocas, bem como de peças de grande virtuosidade técnica nos últimos volumes. Ultimamente, professores procuram mais do que nunca alargar este repertório, incorporando peças que forneçam maior variedade técnica e estilística, o que possibilita um crescimento mais gradual na preparação do aluno para o grande repertório.
3 Alunos mais velhos podem criar uma perigosa dependência:
- de gravações, já que podem assimilar uma nova passagem muito mais rapidamente de ouvido do que através da música impressa;
- dos pais, sempre carregando os seus instrumentos, organizando todas as suas músicas e preparando-os para tocar desde pequenos;
- de seus professores, que tem afinado seus instrumentos, marcado suas músicas e facilitado todo o aprendizado (algumas vezes mastigando nota por nota) desde o começo. Eles algumas vezes tem maior dificuldade do que alunos tradicionais no desenvolver de sua independência. No entanto, isto não é apenas um problema do aluno Suzuki. Até mesmo professores universitários reclamam que seus alunos não sabem como pensar por eles mesmos!
4 O público americano tem a chance de ouvir o Tour Group da Educação do Talento, formado por alguns dos melhores músicos jovens do Japão, todo outono. Estes concertos são sempre fonte de muita inspiração ao s alunos, pais e professores. Em um esforço para manter-se a par com seus equivalentes japoneses e com as gravações, os alunos Suzuki americanos tem a tendência de tocar forte, muito forte, fortíssimo (Dr Suzuki constantemente enfatiza SOM GRANDE) e presto, molto presto, prestíssimo (tempo de “Matsumoto”). Isto se torna mais exagerado ainda quando os alunos tocam em grandes grupos. Repetindo: isto não é um problema que só os alunos Suzuki desenvolvem. Todos os grupos de cordas formados por músicos jovens tem uma tendência natural de “correr e tocar muito forte” se seu professor não ensina nuances como sotto voce e controle do tempo desde o começo.
Nós não somos tão diferentes
Portanto, vemos que as diferenças entre o ensino Suzuki e o ensino tradicional estão mais relacionadas ao começo e são diferentes mais filosóficas do que técnicas. William Primrose descreve seu ceticismo no que ele acredita ser uma filosofia de ensino em “linha de montagem” do ensino de violino, uma atitude típica de muitos músicos de sua geração. Depois de viajar ao Japão com sua esposa Hiroko, visitando Suzuki e ouvindo seus alunos no Instituto da Educação do Talento em Matsumoto, Primrose surpreendeu-se do quanto a sua educação foi similar à ideologia Suzuki: ele tinha sido criado desde cedo por pais dedicados em um ambiente musical inspirador. Ele era “imitador”, como qualquer outra criança. O método do Suzuki de ensinar violino não é tão diferente de tantos outros. Sua singularidade está na habilidade impressionante de desenvolver crianças pequenas e enriquecer suas vidas.[5]
Não importando se nos rotulamos professores “tradicionais” ou “Suzuki”, cada um de nós deve aproveitar todas as oportunidades possíveis de aperfeiçoarmo-nos como músicos e como professores, extraindo idéias de diferentes fontes e combinando-as com as nossas próprias, desenvolvendo um estilo próprio. “Para o professor criativo e qualificado, qualquer método serve como uma estrutura básica para um ponto de partida, para que posteriormente problemas práticos do seu cotidiano o façam amadurecer e aperfeiçoar-se constantemente. [6] Nós construirmos nossa reputação como professores, seja ela boa ou ruim, através de nossos alunos e nos exemplos que estes passam aos outros. Nossos passos iniciais podem ser diferentes, mas nossas esperanças e objetivos são no final os mesmos: ter uma influência positiva em crianças cujas vidas nós ajudamos a formar, ensinando-as a arte de tocar um instrumento e instigando sempre a apreciação da boa música.
5 William Primrose. Walking on the North Side (Provo,UT: Brigham Young University Press.1978), 218
6 Stephen Lo. A Reading Course for Suzuki piano Students (Dissertação. Texas Tech University. 1993 )